Sonhar é O Melhor Remédio - SMR

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Alice

Nunca gostei de direito,mas parece que as aulas desse semestre estão ainda mais entediantes. Sempre tento pensar em um ballet famoso,como A Bela Adormecida,e me imagino sendo a protagonista,esse é o melhor remédio para dias entediantes.Exceto quando a Srta. Finsh me pergunta algo sobre a matéria que acabou de explicar.Sempre fico sem palavras e ela sempre explica tudo de novo.Dessa segunda vez,me esforço muito para entender,pois ela sempre se volta para mim e diz: Entendeu?.

Quando sai da aula,com 3 livros de direito em uma mão,e na outra mais 4: Um da história do ballet,um que falava sobre “Giselle”,meu ballet favorito,e mais 2 de direito por cima,para não poder ver os livros de ballet;

                           

Óculos tortos,cardaços desamarrados e cabelo bagunçado são algumas coisas que estão precárias em mim,nada adequado para uma garota de 22 anos.Como minha mãe diz “Você só tem tamanho,porque tem uma verdadeira mente de 2 anos”.

E foi nesse estado que encontrei Maria Luiza,que me olhou com desgosto e arrumou meus óculos e meus cabelos,dizendo:

-Querida,quando tinha sua idade jamais ficaria assim.

-Primeiro:Odeio quando você fala “Quando tinha sua idade...”.De qualquer forma,você é apenas 6 anos mais velha que eu.E só porque você é a senhorita perfeitinha,não significa que tenho que ser também-disse-lhe,bufando.

-Calma,querida,hoje você está muito estressada.

-Obrigada!

-O que há com você?

-Nada.Como vão seus estudos para concluir a 3° faculdade?

-Progredindo.E os seus?

-Péssimos,como sempre;Mas a bibliotecária me ajudou,dando esse livro – e mostrei o meu livro,que falava tudo sobre Giselle.

-A história de sempre:Ela conhece um príncipe,que diz que não é príncipe,mas depois ela descobre que ele mentiu e morre.Vai para um bosque esquisito e.....

-O nome dela é Albrecht,para sua informação.Mas esse livro tem mais:a história contemporânea do ballet!

-Olha amiga,fico feliz por você,mas trate de estudar,pois acho que você não quer fazer essa faculdade de novo.

-Com certeza não!

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Alice

Cheguei em casa muito desatenta,pensando no que Maria Luiza dissera.Se quisesse mesmo sair daquela faculdade rapidamente,teria que me esforçar o máximo nos estudos.Mas do jeito que estou andando,era difícil tirar uma nota azul.

Pensando em tudo isso,esqueci de dirigir um breve oi ao meu pai.O humor dela já não é bom,e quando não lhe dirijo sequer uma palavra quando chego,parece que o humor dele se mistura em raiva,ódio e chateamento.Coloquei a bolsa na mesa,e ainda sim esqueci de lhe dizer um oi.Ele,bravo,foi me perseguindo.Quando decidi voltar para pegar outro livro na bolsa,esbarrei com ela,e acabei derrubando os livros no chão.Todos se espalharam,inclusive os de ballet.Ele viu o livro sobre Giselle,e me disse,com a voz ainda mais grossa:

-Não acredito que ainda anda alimentando sonhos impossíveis.E ainda na faculdade!Pago ela para você estudar direito,e não...isso!

-Isso se chama Ballet,pai!

-Nem pense em sair do quarto hoje!-e pegou meus livros.

Às vezes fico com muito ódio,Já sou de maior e dona de minhas próprias decisões.Mas todos me tratam como uma criança.Já não tenho amigos,e ainda não posso “alimentar meu sonhos impossíveis”.

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Alice

Sentada em minha cama,ao lado do computador,pensava em como minha vida era!Não poder realizar meu maior sonho era uma causa muito importante para tornar minha vida tão ruim.Sem contar pela falta de minhas amigas,que tive contato apenas aos 20 anos.

Sentei em frente ao computador,e decidi entrar no bate-papo.Por milagre,minha antiga professora de ballet estava disponível. Ela,sem ao menos dizer oi,disse: “Queria tanto que seu pai lhe permitisse!O Studio de Dança está fazendo um concurso para levar uma aluna dele a Rússia”.Meus olhos se iluminaram:O que eu tinha lido?

Tremendo,digitei:

-Se meu pai permitisse,será que eu tinha alguma chance?

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Alice

A resposta não foi imediata:5,10,15 minutos e nada.Comecei a achar que não seria provável eu ganhar,portanto ela ficou com vergonha de falar.Finalmente,20 minutos depois de minha pergunta,ela respondeu:

-Sim,Alice,Claro.Você tem um grande potencial.

O sorriso iluminou meu rosto por um breve instante.Mas novamente minha expressão tornou-se severa.Seria improvável meu pai deixar eu me inscrever no concurso.

Dei um breve “tchau” e sai do computador.Peguei meus livros de direito e posicionei-me confortavelmente para estudar.Mesmo lendo todas aquelas palavras,percebi que meu pensamento não estava nos estudos,estava num lugar chamado Rússia.

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Alice

Acordei atrasada e fui para a faculdade.Depois de mais uma aula entediante,encontrei Maria Luiza.A ela,narrei todo o acontecido:desde A primeira palavra da professora a minha última.O mesmo aconteceu com ela: abriu um belo sorriso,que também se tornou uma expressão severa.

-Acha que meu pai me daria uma chance?

-Sinceramente,não.

Se ela foi grossa,não percebi.O que ela disse era somente a pura verdade.E tinha que aceitar ela,por mais duro que fosse.

Voltamos caladas para casa,eu para minha,e ela para dela.

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Narrador

Enquanto Alice estava na faculdade,Odette se encaminhava apressadamente a casa de Alice,com o objetivo de convencer Márcio a deixar Alice participar da competição.Seu salto tocava o chão com confiança.e a primeira impressão de Márcio daquela antiga professora de ballet foi de uma pessoa amável,porém muito confiante e auto-suficiente.Depois de entrar e de se acomodar na poltrona,Odette disse:

-Não sei se sua filha lhe contou Márcio mas o Studio de Dança em que Alice estadara está fazendo um concurso – e com uma pausa um tanto dramática,continuou – que está valendo uma bolsa de estudos de Ballet na Rússia.

-Se a senhorita veio aqui para tentar me convencer,esqueça.Não darei a Alice esse tipo de responsabilidade .

-Mesmo se ela fizesse tudo para o senhor permitir?

-Tudo o que?QUaçquer coisa?

-Claro!

-É o que vamos ver.Passar – bem.

E Odette saiu do aposento,rumo a porta,pensando em que fracassara em sua missão;

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Alice

Exausta,cheguei em casa jogando a mochila no sofá e sentando-me junto com ela.Meu pai,Márcio,olhava concentradamente para a televisão,com expressão furiosa.

-Olá pai – disse-lhe ,alegremente.

-Olá – e voltou-se a televisão novamente.

-Aconteceu alguma coisa? – perguntei-lhe,dando-o a maior atenção do mundo,como ele gostava.

-Sim.

Realmente,ele não estava querendo conversar.Normalmente,ele começava a dizer o que lhe deixara preocupado.Hoje,porém,ele respondeu apenas um “sim”,curto e grosso.

-O que? – perguntei-lhe,curiosa.

-Sua antiga professora,Odette, veio aqui!

-Ah.

Em menos de 10 minutos,já estava no computador esperando ele ligar.Quando ligou,entrei no bate-papo e vi a Srta. Odette disponível.

Não a dirigi nem um oi,como ela fizera comigo.Apenas a perguntei:

-O que você veio fazer aqui em casa hoje?

-Nada de importante.Apenas informar seu pai sobre o concurso;

Tremendo,digitei:

-O que ele fez?

-Ficou nervoso,claro!

Dei um breve tchau á ela.Depois,eu fui em um site de busca,pesquisando “como convencer os pais” e várias outras coisas.O resultado não foi empolgante: psicologia reversa e vários outros métodos antigos,que,porém,não funcionavam.

Sai do computador e pensei “Tenho que me contentar com o que tenho” e completei “porque é tudo o que posso ter”.

8

Alice

Meses depois.....

Último dia da faculdade.Coloquei o jeans básico e uma camiseta básica rosa para combinar com o salto que Maria Luiza me dera.

Cheguei na faculdade e percebi que todos estavam animados,afinal,era o último dia de curso.Mas para mim não é tão fácil assim: sabendo que poderia ir a  Rússia,com meu “potencial”,mas não poderia tentar,já que meu pai não deixara.

Quando cheguei a sala,a professora disse:

-Agora,direi o nome de quem foi bem nas provas finais e,portanto,não terão de fazer a faculdade novamente.

A maioria da sala começou a roer a unha,e os que não ruíam exerciam mais alguma mania maluca.

“Britney Hans

Lara Pedleton

Maria Luiza Durgin”

O tempo ia passando e meu nome não chegava.Não tinha mais unha para roer quando escutei:

_ Alice Simothy – 2 palavras que significavam muito coisa: eu não iria ter que repetir aquela faculdade idiota.

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Alice

Já estava com meu lindo vestido vermelho,esperando o carro chagar para me levar a formatura.A lua cheia pairava sobre o céu,prometendo uma noite perfeita.Desci do carro e encontrei Maria Luiza com um lindo vestido verde-limão,e juntas nos encaminhamos a porta de entrada.

Foi tudo realmente muito rápido: escutei  meu nome,peguei o diploma,vi vários flashes e mais nada.Lógico que ainda fizemos mais alguma coisa na formatura,porém,nada de importante.

A festa de formatura estava bombando quando fui embora para minha casa.

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Alice

Cheguei em casa muito cansada,tirando o salto e colocando-os no meu quarto.Quando acordei,no outro dia, estava ainda com a roupa da formatura.Tomei anho,me troquei e fui tomar café da manhã.Junto da mesa,encontrei meu pai,alegre como nunca,sorrindo para mim.

-Bom dia – disse-me

-Boa tarde,pelas horas que são – respondi,apontando ao relógio.

-Tem razão. Boa tarde,como fi a formatura?

-Boa!

-E se fosse de ballet?

-Sinceramente,melhor ainda.

-E se eu te desse uma oportunidade de participar de um concurso,que vale uma bolsa de estudos na Rússia?

-Você faria isso?

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Alice

-Estou fazendo agora – disse-me.

-Eu aceitaria.

-Mesmo com a condição que,se perder o concurso,ingressará na carreira de política.

-Sim!

-E se ganhar,não deverá falar nada de nenhum “espetáculo” a mim – disse a palavra “espetáculo com o máximo de sarcasmo na voz – e se possível,não dirigir uma palavra a mim?

-Ai fica meio difícil....mas acho que.....aceitaria!

-Parabéns!Acabou de fechar um trato comigo!Não se esqueça,amanha tem teste! – e saiu,satisfeito com seu trabalho;

Fiquei com cara de assustada no começo,depois corri para o meu quarto e fiquei ensaiando até a hora de dormir.

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Alice

Não dormi a noite inteira,hora pensando na Rússia,hora pensando em ser política.Mas,por fim,o último tique-taque do relógio Barbie,e apressei-me para colocar a roupa.Me vesti como uma verdadeira bailarina,um collant preto,com decote V e uma linda abertura atrás,que favorece meu pescoço e minhas costas,quando alongadas.Também coloquei uma meia-calça e um sapato branco,pois só ia colocar a sapatilha lá.Por cima do uniforme,coloquei um sobretudo rosa,para não sair de bailarina na rua.

Com o cabelo preso em um coque,senti o ar fresco da manhã em meu rosto.Como meu pai não me levou ao teste,tive que pegar 2 ônibus,o que não foi muito bom para mim,pois quase escorreguei e deixei a meia calça ficar suja mas,por sorte,molhei apenas o sapato.

...

Cheguei lá ainda cedo,pois quase nenhuma participante havia chegado.Por isso,acabei sendo uma das primeiras a me apresentar.Minha apresentação foi simples: uma bela variação de Giselle,bem pequena,porem bem difícil.O tempo foi passando,até que todas já tivessem se apresentado.Demorou alguns instantes até o organizador do evento dizer:

-E a vencedora é...

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Alice

-Marília Senhoreli.

Tentei soar um “não,não,não...”,porém não conseguia falar.Ser política para sempre era demais para mim.

-Desculpe-me – repetiu o organizador – mas é apenas uma que pode ganhar!

Um outro diretor do evento disse:

-Não liguem para ele.Não existe uma tal de “Marília Senhoreli”.Quem ganhou mesmo foi a Srta. Alice Simothy.

Não sabia se ria ou chorava.O medo que tomava-me a pouco tempo tinha se afastado por completo,deixando apenas triunfo no rosto.

-E aqui está seu passaporte,o recibo do pagamento de seu curso e tudo mais.Boa sorte.

Peguei aqueles acessórios com certa bruscaridade.Aqueles acessórios que garantiriam a felicidade da minha vida.

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Alice

Dias depois...

Com as malas prontas – a maioria delas de roupa de ballet – estava aguardando meu pai levantar e me levar.Ainda não tinha dado conta de toda a bagunça que fiz: entre ecas,não falar mais normalmente com meu pai,já que todo assunto,de alguma maneira, terminava na minha ida a Rússia.Quando tinha perdido as esperanças,e procurava meu bilhete único na bolsa,ele apareceu totalmente vestido,mas com uma cara não muito bonita.

-Er....bom dia!Já?

Ele deu de ombros.

Saímos em silêncio.Quando ia entrar no avião,ele disse apenas “tchau” e mais nada.Nem um “vou sentir saudade” ou algo parecido.Quando o avião decolou,vi uma lágrima no rosto de durão do meu pai.